Nosso entrevistado de hoje praticamente dispensa apresentações, pois é sem dúvida alguma um dos DBA’s Oracle mais conhecidos da comunidade Oracle aqui no Brasil. E uma grande curiosidade é o fato dele não possuir certificações – e mesmo assim ser uma referência de profissional conceituado e de altíssimo conhecimento.
 
 

José Laurindo Chiappa, seja bem-vindo ao Certificação BD, muito obrigado pelo tempo concedido ao nosso blog.

 

1) Chiappa, conte um pouquinho de sua trajetória profissional. Quando e como começou? Por onde passou? Quais cargos? Onde está atualmente?

 

Bem, eu nasci e sempre morei em SP-Capital, na Zona Leste da cidade, e eu comecei a trabalhar adolescente (afora o necessário para os estudos e coisas assim eu sempre tive que me manter por conta, para qquer tipo de despesas pessoais), e  antes de entrar na área de TI tive alguns trabalhos interessantes não-registrados, como atendente em um bar, ratoeirista (operário/montador numa fabriqueta de fundo de quintal que produzia itens de metal, como ratoeiras, batedores de ovos, abridores de garrafas, etc), montador de brinquedos (noutra empresinha que nem fundo de quintal era, que recebia brinquedos desmontados para pintar e montar para fábricas de periferia), ajudante de marceneiro …
Em TI especificamente eu comecei em 1.986, aos 19 anos depois de fazer um dos famigerados cursinhos de BASIC/COBOL/Assembly,na época muito comuns (embora já fosse “micreiro”, o proto-geek dos anos 80, há muito), e de modo interessante, não fui contratado como Programador, mas sim como Operador de um sisteminha em dBASE III que a Empresa (uma pequena revendedora de suprimentos de informática em SP-Capital chamada Supridata) tinha adquirido : ou seja, meu primeiro contato com TI de modo profissional já teve a ver com bancos de dados :)… Autodidata como sempre fui, não me intimidei com a mudança algo brusca de tecnologia a partir que tinha estudado, comprei uns bons livros e rachei a cuca, apanhei bastante…
Fiquei pouco mais de um ano lá e depois disso trabalhei mais alguns anos ainda em outras colocações porém programador mesmo, passando por algumas alocações bem diferentes : por exemplo, usando BASIC Applesoft e MacroAssembler 6502 para interligar aparelhos médicos em Apple-clones numa fábrica chamada Viotti Associados, desenvolvendo com Clipper – que nos final dos anos 80 era febre – em várias soft-house de pequeno porte que hoje certamente não existem mais (entre os quais uma que atendia o Grupo Estado de São Paulo, onde desenvolvi em Clipper ainda a primeira versão do software usado pelo pessoal do Jornal do Carro para substituir as planilhas eletrônicas na Bolsa de Preços que eles publicavam – realmente dava pra fazer muito com Clipper, especialmente mixando com C)….
Até como Instrutor atuei no período também, em escolas como Databyte e SOS Computadores (a mesma onde fui Aluno), até que em 1.992 entrei numa Corretora de Valores de SP, chamada Convenção – foi aí que tomei conhecimento de RDBMS Oracle (versão 6.x, sem PL/SQL que era cobrado á parte!) , de Oracle Forms (versão 2.x, texto em monitor de fósforo verde, coisa pré-histórica mesmo) e de UNIX, todas coisas que iriam mudar irremediavelmente minha trajetória profissional…. O fato é que na época as Corretoras de Valores tinham que (imposição da Bolsa de Valores) usar um software chamado SINACOR, que rodava sob UNIX com banco de dados Oracle e algumas telas em Forms, e a Bolsa tinha um curso interno gratuito para funcionários das Corretoras de introdução ao UNIX, ao RDBMS Oracle e ao Forms, e por simplório que fosse (e era mesmo), foi o meu start…
Nessa época (começo dos anos 90) o Clipper começo a declinar e o Forms foi ficando popular (junto com o RDBMS Oracle), então passei o resto da década por várias Consultorias (Consulters, G&P, Davoult, Third, Origin) desenvolvendo com Oracle Forms e PL/SQL e fazendo Análise/Modelagem também, até que em 2.000 fui chamado pela Stefanini para assumir uma posição de sysadmin AIX e DBA Oracle no cliente Banco BBV, e desde então basicamente larguei mão de programar e de fazer Análise e Modelagem, sem olhar para trás…  Fiquei 3 anos nessa colocação, e esse foi um turning-point definitivo, o lugar onde eu mais aprendi e evoluí profissionalmente, eu creio…
Nestes últimos 12 anos de DBA passei por muitas Empresas, como a Systems Maintenance do Brasil (atendendo ao cliente Telefônica-SP), a Discover (onde trabalhei junto com o Marcos Vinicius, que antes de tudo é uma pessoa incrível) , na IBM e em algumas outras, até que a partir de 2011 por uma dessas coincidências do mercado voltei para onde comecei, a Stefanini, onde estou até hoje atendendo a diversos clientes Stefanini em part-time…

 
 
2) Com todo seu conhecimento e experiência, ainda é possível ter planos de crescimento profissional? Quais seus objetivos pra isso atualmente?
 
Mas sem dúvida! No momento estou focando meus estudos em HA & DR com RAC e Dataguard(que é uma área quente, hoje em dia) mas a médio prazo meu principal plano para crescimento é me tornar um Líder Técnico na área de DBA, ie : alguém que até pode atuar nos problemas técnicos mais complexos mas que normalmente está mais focado em espalhar o conhecimento dentro do time, que assume papel Ativo no planejamento da atuação do time de DBAs (epor exemplo, ajudando a estabelecer a metodologia a ser seguida) , que por conhecer bem a parte técnica mas também as pessoas do time pode Coordenar a atuação de todos, pode fazer a melhor divisão de tarefas e fornecer subsídios para a Execução…. Isso é muito importante para as tarefas rotineiras dum griupo de DBA, esse tipo de tarefa (como consultar locks/waits/performance, aumentar/diminuir espaço, programar & aconpanhar backups, etc, etc) absolutamente Não Deveria tomar nem um instante de ponderação, já deveria haver um Manual de Procedimento que reza, use o script x, entre na tela Y e acabou…
Isso é algo bem diferente de um Gerente de pessoas, que é algo que exige algumas soft-habilities para as quais não me sinto inclinado, como Motivação de pessoas, por exemplo…

 
 
3) É praticamente unânime o seu nome como um exemplo de “profissional altamente reconhecido mesmo sem possuir certificações”. Se você for entrevistar profissionais para uma vaga de DBA, no papel de Gerente de TI, você levaria em consideração as certificações deste profissional? Ou usaria seu próprio histórico para ignorar as certificações e avaliar apenas o real conhecimento do profissional para contratá-lo?
 
Eu sempre disse (é uma Convicção pessoal muito firme) que a Certificação apresenta 3 vantagens importantíssimas :
a. deixa vc usar um pouquinho do marketing da Oracle, pois vc põe no seu Curriculum um logo oficial da Oracle

b. implica que pelo menos uma parte do conhecimento necessário a pessoa mais ou menos tem
c. por causa de a. e b. , além de chamariz para te diferenciar, ela serve como Critério de desempate : não se tenha dúvida, se vc está disputando com outra pessoa uma vaga e a experiência/conhecimento é semelhante, bem como valores e demais condições, se vc tem Certificação e a outra pessoa não, é uma Vantagem sua

O fato porém que Não se pode esquecer é : a certificação Nunca, Jamais, Em Tempo Algum, De forma Nenhuma substitui a Experiência : ela indica que a pessoa obteve Conhecimento ao menos num nível inicial, mas como DBA eu não sou pago para mostrar Conhecimento, mas sim para Aplicá-lo….. Assim, não é pelo fato que a pessoa tá certificada que pode “pagar pau” de DBA Sênior se não tiver a Experiência prática correspondente…

=> Essa é a resposta da pergunta, então : se eu fosse um Contratante, eu levo em conta as Certificações, claro, mas Exijo experiência comprovada compatível com a vaga…. Assim, se a pessoa É Certificada mas não tem nem dois anos de experiência e outro concorrente não é certificado mas tem ampla experiência, adivinha quem eu prefiro 🙂 Sorry certificado… Agora, se o certificado também tem Experiência prática compatível, hello certificado ! Vem cá…

      Nem preciso dizer que o Conhecimento dos Conceitos Fundamentais de RDBMS é também vital para um DBA – a certificação não os cobra em profundidade, mas eu penso o contrário, que eles importam muitíssimo : assim, quem for capaz de me dizer a relação entre block, extent, segment, desenhar num quadro (bem por por cima) o mecanismo de funcionamento do RDBMS, puder citar algumas built-ins e elementos do dicionário de dados que usa bastante, etc, ganha muuuuitos pontos comigo, pois sei que esse cara quando for apresentado para novos conceitos/novas versões tem um fundamento forte… É mais ou menos como construir uma casa, se vc tem alicerces bons já é mio caminho andado para o sucesso…

 
 
4) Já pensou em se certificar em algum momento no passado? E pretende ainda fazer isso algum dia?
 
Já, eu fiz as 5 provas do OCP 8i mas reprovei na última, por pouquíssimo – aí fiquei de refazer a prova, mas com a correria sempre crescente do trabalho acabei não o fazendo… Sem dúvida pretendo me certificar, para não só usufruir das vantagens que citei acima Mas de uma outra que não citei : hoje em dia já começa a pipocar no mercado colocações (principalmente transnacionais e vagas para o Governo brasileiro, nos 3 poderes, mas também em instituições semi-públicas como órgãos de classe) aonde se Exige a Certificação como pré-requisito para se poder participar do processo…

 
5) Temos muitos leitores que ainda não trabalham efetivamente como DBA, mas que pretendem entrar na área. Qual seu conselho para os iniciantes?

 
O meu conselho tem várias partes :

a) tenha Certeza de que vc se adequa à tarefa : o trabalho grosso de um DBA não é programar, criar uma solução desenvolvendo com alguma tool, mas sim Conhecer os recursos do RDBMS e Saber Onde os aplicar para solucionar o problema em mãos (seja performance, backup&restore, HA/DR, segurança, o que for)… Dificilmente vc vai escrever muita coisa além de scripts e pequenas soluções de automação, se o seu perfil não é esse vc pode se decepcionar…
Outro ponto é a responsabilidade e a pressão envolvidos :  os dados são o Ativo mais precioso para o negócio muitas vezes, então uma falha no trabalho de DBA, que trabalha com os dados diretamente, impacta muito mais do que, digamos, uma falha de um desenvolvedor, que tende a ser algo localizado…

b) use & abuse dos recursos presentes na Internet grátis : a Oracle dá a versão full dos softwares dela quase todos para vc testar e estudar em casa (em http://technet.oracle.com ) , dá a Documentação (em http://tahiti.oracle.com) – use-os… Não deixe também de frequentar/usar os outros muitos recursos, como blogs & sites especializados…. Eu penso inclusive que o melhor é quebrar a cabeça baixando/instalando e testando o banco, e só depois disso fazer um Curso, vc vai pro Curso muito menos “no ar”

c) saiba que (entre outros fatores por causa da responsabilidade envolvida) nunca é fácil e simples o início de carreira :  vc tem que persistir, tentar e tentar e tentar, talvez até mesmo no início da carreira aceitar uma colocação como Utilizador ou Desenvolvedor usando o RDBMS, para depois tentar uma de DBA…

d) enquanto está tentando começar profissionalmente, tente aplicar o conhecimento que adquiriu nos estudos e nos testes em casa : por exemplo, participe de um Grupo de Discussão… Na Empresa, se hoje vc não trabalha com banco mas tem uma área de DBAs, tente se aproximar, se ofereça para ajudar nalguma coisa… Numa dessas, vc até consegue alguém para ser seu Mentor, o que é inestimável para a carreira…

 
 

Obrigado Chiappa!

Equipe Certificação BD